Trabalhadores do Hospital Materno Infantil Santa Catarina aguardam acordo para evitar greve

Os trabalhadores do Hospital Materno Infantil Santa Catarina, em Criciúma, seguem em alerta enquanto aguardam a formalização de um acordo coletivo com o Instituto Ideas, responsável pela gestão da unidade. O impasse envolve o pagamento do complemento do piso da enfermagem, que vem causando prejuízo mensal de cerca de R$ 300 por trabalhador.
A greve foi aprovada em assembleia pelo Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Saúde de Criciúma e Região (Sindisaúde), mas está suspensa até que a minuta do acordo seja analisada e assinada.
Em entrevista ao Jornal da Guarujá, o presidente do sindicato, Cléber Ricardo da Silva Cândido, confirmou que a situação é preocupante e que a direção do hospital só aceitou negociar depois da aprovação da greve.
“A situação é preocupante. A gente tem uma administração no hospital e sempre tivemos problema na questão trabalhista. Nos últimos dias aconteceu o descumprimento convencional, que trouxe prejuízo para os trabalhadores, próximo de R$ 300 por mês. Depois de vários debates sem resolução, fizemos a assembleia e aprovamos a greve. Só então a direção definiu fazer uma reunião e concordou em firmar um acordo coletivo para tentar resolver a situação”, relatou.
Segundo Cândido, o acordo ainda não está fechado.
“A gente mandou a minuta para eles avaliarem e estamos aguardando resposta. Essa resposta tem que sair até amanhã, sexta-feira, para a gente saber o encaminhamento. Caso contrário, temos uma decisão de greve que pode acontecer a qualquer momento”, afirmou.
Problemas vão além da questão salarial
Apesar da negociação em andamento, o sindicalista disse que os trabalhadores continuam exercendo suas funções, “não como deveriam”, já que há outros problemas graves.
“Temos falta de local e espaço para descanso, falta de funcionários, atraso no FGTS e trabalhadores terceirizados com salários atrasados. Então, são várias questões que a gente enfrenta dentro do Materno Infantil”, destacou.
De acordo com ele, parte dessas dificuldades está relacionada ao modelo de gestão do Instituto Ideas.
“Um dos grandes problemas do Ideas é tentar terceirizar e fragilizar o direito dos trabalhadores. A gente tem várias ações coletivas contra o instituto por causa disso”, afirmou.
Cléber explicou também a origem do problema financeiro que afeta a categoria desde a aprovação do piso nacional da enfermagem.
“Após a aprovação da lei do piso, o STF decidiu que o complemento deveria ser pago pelo governo federal para instituições filantrópicas, que atendem mais de 60% pelo SUS. Só que, como houve reajuste no salário base, o governo começou a diminuir o valor do repasse, porque ele continua considerando o piso antigo. Isso gera um déficit de quase R$ 300 por trabalhador”, explicou.
Segundo ele, o sindicato havia negociado que o complemento fosse pago como abono, fora do salário base, para evitar a redução do repasse federal.
“O que aconteceu é que o Ideas colocou esse valor dentro do salário base, e o governo parou de repassar a diferença. Por isso, além da minuta do acordo, a gente vai ter que conversar com o governo do Estado e com a Secretaria de Saúde para resolver esse impasse”, disse.
Histórico de gestão e risco de novo prejuízo
Cândido lembrou ainda que o hospital já enfrentou graves problemas com administradoras anteriores, e teme que o cenário se repita.
“É uma instituição que tem problemas de gestão, são várias denúncias, tanto trabalhistas quanto na parte do atendimento. Nossa preocupação é o rompimento do contrato e os trabalhadores ficarem a ver navios de novo, como aconteceu com a última empresa que administrava o hospital, que até hoje não pagou as rescisões e salários atrasados”, afirmou.
O presidente reforçou que a expectativa é de que o Instituto Ideas responda até sexta-feira (17) sobre o acordo. Caso contrário, o Sindisaúde poderá deflagrar a greve nos próximos dias.
Confira entrevista completa