Secretário Beto Martins detalha união dos estados do Sul para fortalecer infraestrutura ferroviária

Os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul assinaram uma carta-manifesto conjunta para cobrar do governo federal mais investimentos em infraestrutura ferroviária. A iniciativa também cria uma comissão interestadual que vai elaborar um novo mapa ferroviário para o Sul do Brasil.
O Jornal da Guarujá conversou com o secretário de Portos, Aeroportos e Ferrovias de Santa Catarina, Beto Martins, que detalhou a importância da medida. Ele alertou para a situação crítica da logística regional, principalmente no transporte de cargas.
“O contexto do setor ferroviário na nossa região é absolutamente caótico. Hoje, movimentamos 65 milhões de toneladas por ano nos portos catarinenses, mas apenas 6% dessas cargas chegam ou saem por ferrovia. Os outros 94% são por rodovia”, destacou Martins.
Segundo o secretário, o colapso nas principais rodovias, como BR-101, BR-470 e BR-280, já impede a expansão dos portos. Ele lembra que, além dos seis portos em operação, o estado terá mais um ainda este ano — o Terminal Graneleiro de Santa Catarina (TGSC), com capacidade para 8 milhões de toneladas e outro em licenciamento na Baía da Babitonga.
“O que alertei ao governador é: por onde essa carga vai passar? O Estado pode ter oito portos, mas se não investir em ferrovia, não adianta. Nós precisamos garantir conectividade com outros estados”, afirmou.
Santa Catarina já investe mais de R$ 30 milhões em projetos ferroviários, mas Beto Martins diz que eles não serão viáveis sem segurança jurídica e integração nacional.
“Não adianta criar uma linha ferroviária que só rode dentro do estado. Tem que estar conectada ao Paraná, Mato Grosso, São Paulo. Por isso, a decisão dos governadores de unirem esforços e planejarem uma ferrovia para todo o Sul e Centro-Oeste”, explicou.
A carta-manifesto foi entregue ao ministro dos Transportes, Renan Filho, com críticas à exclusão do Sul nos investimentos federais.
“O ministério anunciou R$ 180 milhões para ferrovias e não tem um centavo para o Sul. Falam muito em viabilidade econômica, mas o que vemos na Europa e nos Estados Unidos é ferrovia subsidiada. É isso que precisamos aqui. Sem isso, vamos continuar perdendo competitividade”, afirmou Martins.
Ele destacou que o chamado “Custo Brasil”, agravado pela ineficiência logística, já afeta diretamente a indústria catarinense. O milho que abastece a produção de carnes e derivados vem de estados como Mato Grosso e Goiás, com frete alto e estradas ruins. Isso tem feito empresas migrarem para regiões mais próximas da matéria-prima.
“Nossa perda é irreparável, porque estamos perdendo produção para Mato Grosso e Paraná, que ficam mais próximos da matéria-prima. Precisamos de políticas públicas para ferrovia e também para a aviação regional, que praticamente faliu no Brasil.”
Sobre a interlocução com o governo federal, o secretário afirmou que os estados já fizeram um apelo formal.
“Enviamos uma carta ao ministro Renan Filho cobrando mais diálogo, pois as decisões sobre o futuro da malha ferroviária, como o que vai acontecer com o Tronco Sul, estão sendo tomadas sem ouvir os estados. Nós representamos 19% do PIB nacional, e merecemos mais atenção.”
Além do manifesto público, os estados formarão uma comissão com três representantes de cada governo para discutir e propor um novo modelo ferroviário. Um decreto catarinense será publicado ainda nesta semana e os demais estados devem seguir o mesmo caminho.
“A ideia é construir um modelo integrado, e não esse Frankenstein que está sendo discutido em Brasília sem ouvir os estados. Se perdermos o Tronco Sul, perdemos a espinha dorsal da ferrovia catarinense”, concluiu.
A primeira reunião da comissão está prevista para agosto.
Confira entrevista completa