Desafios na produção de milho no Brasil: Aumento de custos e janela de plantio estreita ameaçam safra
*Entrevista com Enori Barbieri, vice-presidente da FAESC – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC
O cenário para a próxima safra brasileira de milho torna-se cada vez mais desafiador devido ao aumento dos custos de insumos e à estreita janela disponível para o plantio. Em uma entrevista exclusiva concedida ao Jornal da Guarujá na manhã desta quarta-feira, 17, Enori Barbieri, Vice-Presidente da FAESC (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC), compartilhou insights cruciais sobre a situação que preocupa agricultores em todo o país.
O Brasil, sendo o terceiro maior produtor mundial de milho, enfrenta a perspectiva de uma safra comprometida, especialmente na chamada “safrinha”, responsável por 90% da produção nacional e cultivada após a colheita da soja. Barbieri destacou que dos 130 milhões de toneladas colhidas no ano passado, 24 milhões foram provenientes da safra, enquanto o restante veio da safrinha.
O vice-presidente alertou para dois desafios que impactam negativamente a produção. O primeiro é uma janela de plantio mais curta devido ao atraso na colheita da soja no Centro-Oeste, causado por condições climáticas adversas. O segundo desafio é de natureza econômica, com preços de mercado tão baixos que inviabilizam qualquer perspectiva de lucratividade para os agricultores.
Barbieri salientou que a incerteza em relação à safra se intensifica, com muitos produtores anunciando que não plantarão a safrinha este ano. O Ministro da Agricultura convocou uma reunião com representantes de todos os estados para buscar soluções, pois a não produção afetaria significativamente Santa Catarina, o maior importador de milho do país.
Em suas falas, Enori Barbieri ressaltou a gravidade do problema econômico que os produtores enfrentam, evidenciado por um período de preços pagos aos produtores muito baixo. Ele compartilhou que as simulações de custo de produção mostram resultados negativos, levando muitos agricultores a reconsiderarem o plantio da safrinha. O Vice-Presidente da FAESC alertou que o estado de Santa Catarina, o maior importador de milho do Brasil, seria severamente prejudicado caso a produção fosse comprometida.
Barbieri explicou que a condição de insegurança entre os produtores brasileiros é agravada pelo atraso significativo no plantio da soja no Centro-Oeste, reduzindo a janela de plantio do milho. Ele enfatizou que a falta de chuvas prevista para abril na região é crucial para o desenvolvimento do milho, tornando a situação ainda mais crítica.
Falando sobre a situação dos agricultores, Barbieri ressaltou: “Nós estamos vendo inúmeras produtores anunciando que não irão plantar essa segunda safra. O ministro da agricultura no último dia onze, chamou todos os estados do Brasil para encontrar uma solução para esse problema. O grande prejudicado desse processo de não plantio é o estado de Santa Catarina.”
Ao discutir as medidas propostas pela FAESC ao Ministério da Agricultura, Barbieri destacou a necessidade de permitir que agricultores inadimplentes obtenham crédito para plantar, visando estimular o plantio da safrinha. Ele também ressaltou a importância de algum tipo de seguro agrícola para cobrir produtores que não conseguiram recursos para o pagamento do prêmio do seguro.
O Vice-Presidente da FAESC enfatizou que essas medidas são cruciais para trazer de volta o agricultor para a produção, garantindo assim que o Brasil mantenha sua posição como grande produtor e exportador de milho.
Desafios políticos e recursos para o agronegócio
Barbieri também abordou a questão dos desafios políticos ao afirmar que, infelizmente, o Ministério da Agricultura enfrenta dificuldades de acesso a fontes de recursos do tesouro, principalmente no orçamento. Ele enfatizou a necessidade de uma ação política forte por parte da bancada catarinense para destinar mais recursos ao Ministério da Agricultura.
O Vice-Presidente da FAESC observou que, devido à pandemia, os produtos agrícolas foram valorizados, diminuindo a necessidade de intervenção do governo e destacou a importância de retomar a prática de estabelecer um preço mínimo para garantir a sustentabilidade econômica dos agricultores, uma vez que a ausência desse mecanismo contribui para o desestímulo na produção.
Ao final da entrevista, Barbieri respondeu a pergunta de um ouvinte e compartilhou informações sobre o programa de regularização de titulação de propriedades fora do padrão do INCRA, já em andamento no sul do estado de Santa Catarina. Ele incentivou os interessados a se inscreverem por meio dos sindicatos rurais locais, garantindo assim a regularização de propriedades com menos de dois hectares.
Confira entrevista completa