Cetran critica proposta do Contran que extingue aulas obrigatórias para tirar CNH
O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou uma minuta de resolução que põe fim à exigência de aulas em autoescolas para a retirada da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A medida também atualiza outros pontos do processo de formação de novos condutores, mas ainda não está em vigor. Diante da repercussão nacional, o Jornal da Guarujá ouviu, na manhã desta quinta-feira (4), o presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), Atanir Antunes, que detalhou o conteúdo da proposta e criticou a forma como ela foi construída.
Ao explicar em que etapa o processo se encontra e por que o anúncio gerou tanta discussão antes mesmo da implementação, Antunes ressaltou que se trata apenas de uma minuta e que o texto oficial ainda não foi publicado. “É uma minuta de resolução lançada no início da semana e que não foi publicada ainda. Ela traz muitas novidades na formação de condutor, e a população está esperando para ver como serão feitas essas mudanças.”
O presidente também comentou sobre o processo de elaboração da proposta e afirmou que o Contran tomou a decisão sem consultar instituições fundamentais para o sistema de formação de motoristas. “É lamentável o comportamento do nosso Contran, que resolveu editar uma resolução sem ouvir os órgãos envolvidos. Não ouviu os Detrans, não ouviu o Centro de Formação de Condutores, não ouviu a sociedade. De forma autoritária, está exarando esta resolução.”
Ao ser questionado sobre o impacto das mudanças na segurança viária, Antunes destacou que o contexto atual é muito diferente daquele de décadas atrás e que a retirada das aulas obrigatórias preocupa justamente por ignorar essa evolução. “Lá nos anos 80 era diferente. A frota era menor, a população era menor. Hoje vemos números alarmantes. A formação de condutor precisava de revisão, mas não dessa forma.”
Ele também ampliou sua avaliação sobre os riscos envolvidos, especialmente no caso de pessoas sem treinamento conduzirem veículos durante o aprendizado. “O Contran está pensando, de forma populista, em oferecer um documento muito rápido, mas sem nenhum tipo de preparo.”
Em seguida, reforçou com um exemplo prático. “Como vamos colocar um cidadão infrator para ensinar outra pessoa a dirigir sem comando duplo de freios, sem veículo preparado? Imagine você com sua família na calçada e uma pessoa sem preparo avança sobre ela.”
Comparação com décadas anteriores e custo da CNH
Para contextualizar as mudanças de comportamento e exigências no trânsito ao longo dos anos, Antunes lembrou práticas comuns no passado que hoje seriam consideradas inseguras. “Nos anos 80 era comum ver pessoas andando de moto sem capacete. As crianças iam na caçamba de caminhonetes. Os tempos mudaram.”
Ele também rebateu dados divulgados nacionalmente sobre o suposto impacto financeiro da redução de etapas. “Não é verdade essa carteira de cinco mil reais. Em muitos estados, o preço é R$ 2.000, R$ 2.500, um pouco mais ou um pouco menos.”
Ao comentar sobre a possível relação entre a proposta e o calendário político, Antunes respondeu de forma cuidadosa, mas deixando clara sua percepção. “Já escutou aquela frase: ‘qualquer semelhança é mera coincidência’?”
Ao explicar se motoristas profissionais também seriam afetados pelas mudanças, ele afirmou que a minuta não altera essa etapa do processo. “Para caminhão, ônibus ou carreta, permanece obrigatório frequentar um CFC.”
Encerrando a entrevista, Antunes reforçou o alerta principal do Cetran sobre a proposta. “Colocar uma pessoa sem preparo para ensinar outra é um perigo muito grande. Depois não podemos reclamar que vidas estão sendo ceifadas. Temos que ter responsabilidade.”
Confira entrevista completa